Na mbooster, desenvolvemos websites de raíz e produzimos também todo o seu conteúdo escrito. Para nós, este conteúdo divide-se em:
- Copywriting — no qual podemos pensar como escrita apelativa com o objetivo de publicitar, como taglines, manifestos, descrições de produtos…;
- UX writing — ou a escrita de microcopy destinado à simples usabilidade, como frases e palavras que indicam ao utilizador de um website por onde ir, onde clicar para sair e que erros cometeu ao preencher um formulário.
Que técnicas utilizamos para redigir e traduzir todo o nosso conteúdo escrito?
Começando pelo Tom de Voz
Estes dois tipos de escrita têm objetivos diferentes e lugares diferentes também num website. Ainda assim, ambos devem imbuir a Voz da marca que comunica através deste canal.
Esta Voz deve ser distinta, bem definida e pensada em linha com os valores da empresa e também tem em conta o seu público-alvo. Só depois terá a Voz o seu Tom. Tal como nós próprios, temos uma voz nossa e identificável por quem nos conhece, e falamos ou escrevemos com diferentes tons de voz: entusiasmado, apologético, desmotivado…
Imaginemos a pessoa A e a pessoa B, que encorajam um amigo que participa numa corrida.
A pessoa A diz: “Tu consegues! Acredito em ti!”
A pessoa B diz: “Está quase! Mais um metro!”
Ambas estas pessoas estão a adotar um Tom de encorajamento e de urgência. No entanto, elas têm Vozes distintas e que refletem a sua personalidade. Isto percebe-se pela sua escolha de palavras específica, e até pela pontuação, entoação, etc.
Neste exemplo prático, a pessoa A parece mais focada numa ligação emocional com o seu amigo, e em demonstrar validação. A pessoa B parece mais orientada a ser útil ao amigo e transmitir-lhe informação.
Portanto, podemos agora entender que todas as ferramentas de comunicação de uma empresa, até mesmo além do website, têm muito texto associado e este é de grande importância para uma boa experiência e para a afirmação da marca.
A história não fica por aqui, pois, dependendo do posicionamento da empresa, todo este conteúdo escrito terá de ser traduzido.
A Localização
O processo de tradução pode (e, no que toca a UX, deve) incluir Localização. O que é a Localização?
De forma simples e concisa, é o estudo e aplicação de diferenças culturais a um determinado meio. Num contexto de Globalização, é algo considerado muito importante.
Por exemplo, conhecemos a situação comum em filmes em que uma criança se recusa a comer brócolos e daí deriva uma discussão com os pais. No entanto, em certos países, as crianças comem brócolos sem problemas… o verdadeiro legume mal amado é a ervilha.
No nosso quotidiano, testemunhamos alguma Localização em legendas de filmes quando alguma anedota envolve uma celebridade conhecida… Em Portugal, podemos não saber quem é a Megan Rapinoe, mas quem é a nossa capitã da seleção de futebol feminina? Faz sentido trocar? Qual é o contexto?
É por isto que tanto a Localização como a Tradução e qualquer tipo de escrita, seja esta de encantar ou de utilizar… deve ser feita por uma pessoa, e não uma máquina. Um bom exemplo da sensibilidade requerida de um profissional da Localização seria o filme da Pixar “Moana”. Acontece que na Itália existe um filme muito controverso cuja atriz principal de chama Moana. A referência a tal seria imediata e inevitável, pelo que este filme para crianças foi, em vez disso, chamado “Oceania”.
É verdade que nem todos os aspetos são adaptados ao gosto e costume de cada país. Deve existir um equilíbrio e, para tal, uma “Standardização”.
O que é ser bom tradutor?
Regressando, portanto, ao nosso tema principal: a tradução de UX writing, que impacto tem?
Um dos aspetos principais a ter em conta é que o tradutor também deve ser escritor, e deve saber escrever bem e, acima de tudo, saber replicar a Voz e o Tom utilizados.
Um bom tradutor deve saber pegar em microcopy e traduzi-lo com a maior clareza possível. O microcopy de usabilidade é geralmente “curto e grosso”. Próxima página, contactos, introduza um e-mail válido, enviar, limpar… Isto, no entanto, não implica nunca que o microcopy seja desprovido de Tom de Voz. Aliás, quanto mais humana for a mensagem, melhor: enquanto humanos, utilizamos linguagem e, como seria de esperar, esperamos inconscientemente a humanidade de entidades que utilizem a linguagem também.
Isto faz sentido? Se um computador usa a linguagem humana para falar comigo e está a falar comigo na minha língua, o meu cérebro pensa que está a falar com uma pessoa e não uma máquina. Afinal, apenas as pessoas usam a linguagem humana. Então, eu espero que sejam bem-educados para comigo. “Infelizmente, o seu pedido não foi processado. Pode, por favor, tentar novamente?” desperta uma disposição mais colaborativa da nossa parte do que um robótico e frustrante “O seu pedido não foi processado“… ainda por cima, nenhuma razão foi apontada, nem nenhuma instrução sobre o que deve ser feito de seguida.
Todo este conhecimento deve estar presente no espírito de um bom tradutor!
A tradução da escrita de usabilidade é mais do que aparenta ser, e não há lugar para erros ou inconsistências.
Imaginemos um teclado que apresente a palavra “limpar” para eliminar todos os caracteres que escrevemos numa pesquisa. Alguém que traduza isto por “clean“, sim, está a traduzir a palavra à letra… No entanto, esta vai deixar de ser a tradicional escrita de usabilidade que, em inglês, utiliza a palavra “clear“. Um utilizador anglófono poderá sentir-se confuso — o que é o pior pesadelo de um UX writer!
Ser tradutor engloba um ótimo conhecimento de duas línguas e dos seus formatos escritos, e requer também uma sensibilidade relativa ao contexto e ao peso de cada palavra, expressão e construção gramatical.
Nota para equipa…
Esta situação estende-se bem além da escrita, e é particularmente importante em UI/UX design. Por exemplo, um botão ou uma ação que se represente por um ícone tem de ter em conta o seu público e a sua cultura. Isto porque um ícone pode significar diferentes coisas para diferentes utilizadores: uma estrela simboliza “favorito”, mas imagine-se que noutra cultura simboliza conteúdo adulto.
O mesmo se aplica à cor. Pode-se afirmar que a Localização encontra o seu caminho de volta através da cor, porque determinadas linhas visuais devem evitar associações, por exemplo, políticas. Para o nosso caro viajante no tempo, este artigo foi redigido em julho de 2022. Significa isto que, pelo mundo inteiro, o uso do amarelo e do azul têm uma forte mensagem política por associação à bandeira da Ucrânia e por protesto contra o conflito bélico que lá se está a desenrolar.
Se gostaria de saber mais sobre cores, leia o nosso artigo sobre a importância que a identidade visual tem para a sua marca.
O próprio layout de um website deve adaptar-se aos requerimentos do copy, pois a mancha de texto pode aumentar ou diminuir consoante a língua empregue. Não está a ver como? “Nahrungsmittelunverträglichkeit” significa “intolerância alimentar” em alemão. Vamos lá fazer isto caber num menu! O copywriter ou UX writer tem de colaborar com o tradutor e também com o UI/UX designer. Para saber mais sobre a Comunicação Interna nas empresas, leia o nosso artigo sobre fraquezas comuns e soluções úteis.
O som das palavras
Quem está a escrever, seja copy poético para descrever a que cheira um perfume, seja copy de usabilidade para designar a área de cliente, seja o tradutor de qualquer língua… Esta pessoa deve ter também um importante entendimento da fonética.
Porque este conteúdo é lido pelo utilizador e não, talvez, dito em voz alta (excetuando-se o uso do sintetizador de voz para efeitos de Acessibilidade da Web), o som das palavras pode não parecer importante a quem está a escrever. No entanto, um tradutor deve saber que, ao replicar um Tom de Voz de uma marca, cada palavra passou por um complexo processo de pesagem e seleção. Esse processo, se bem feito, teve em consideração o impacto e a agradabilidade dos sons. Então, também cada palavra a traduzir deve ser assim considerada.
Se não reconhece a importância do som das palavras, examine a figura abaixo:
Indique qual das duas formas tem mais probabilidade de se chamar Kiki, e qual das duas tem mais probabilidade de se chamar Bouba.
Um psicólogo alemão, Wolfgang Köhler, desenvolveu este teste em 1929 para estudar as associações que fazemos entre certos sons e certas formas.
É provável que tenha pensado que a figura da esquerda se chama Bouba, e que a da direita se chama Kiki. Neste estudo, em média, mais de 70% dos respondentes afirma o mesmo. É o resultado indicado pela Royal Society Publishing que testou 917 falantes de 25 línguas e 10 diferentes sistemas de escrita (ou alfabetos).
O efeito Kiki/Bouba, como é designado, é uma forma de simbolismo fonético. Nisto, os sons detêm um significado que ultrapassa a língua que falamos.
Por exemplo, imagine que está a escrever copy para uma empresa que vende marmitas e cestas de piquenique. Decide-se por um título como “A maneira mais vistosa de levar o seu farnel“.
Farnel… soa algo simplório? Usa-se na aldeia, ou na cidade? Lembra as professoras na escola? Isso é uma boa associação? Tem um som complexo, com aquele fffff que é uma consoante fricativa mais um rrrr sonoro e um eeel com um ‘e’ bem aberto? Farnel, lembra fel, e fel sabe mal.
E se fosse “merenda“? Esta palavra tem mmm, e um d, e nenhuma vogal é muito aberta ou violenta. É uma palavra mais harmoniosa em som, e talvez por isso mais deliciosa. Talvez lembre de imagens em filmes e anúncios de toalhas de xadrez e lacinhos presos em cestas.
E agora que está decidido, vamos traduzir para inglês: “snack“, “lunch” ou “picnic“? A que soa cada um? São fiéis ao Tom de Voz designado?
Explicada esta importância referente à escrita publicitária, a escrita de usabilidade requer os mesmos princípios. E a tradução de UX writing, também.
E o SEO?
Existem profissionais da tradução que se especializam na tradução SEO — Search Engine Optimization, que engloba a configuração de termos de pesquisa, a integração correta dos mesmos ao longo de cada página web (pense-se no texto alternativo das imagens, na repetição coerente de certas palavras-chave…), e também o ajuste dos títulos e descrições visíveis a utilizadores de motores de busca.
Apesar de não se enquadrar propriamente com UX Writing, convém lembrar que a redação e tradução SEO deve contar com uma colaboração estreita com quem está encarregue do conteúdo escrito — quiçá não sejam todas funções desempenhadas pela mesma pessoa, o que apresenta tanto vantagens como desvantagens.
A sua comunicação está atualizada? O seu website conta com técnicas especializadas de copywriting e UX writing? E quanto à tradução dos seus canais digitais, tem a certeza quanto à sua qualidade? Os motores de pesquisa, hoje em dia, têm atributos de inteligência artificial que reconhecem boa ou má gramática e ortografia, o que pode facilitar ou dificultar o alcance da sua marca na web.
Se não sabe o que escrever, deixe para os profissionais. Saiba como podemos criar e gerir estratégias para o seu negócio recebendo uma apresentação ou simplesmente preenchendo um pedido de contacto.